Conrad Roy e Michelle Carter. A meu ver é um caso muito complicado. Antes de mais, eu não conhecia este caso, fiquei a conhecer após assistir ao documentário disponível na HBO – I Love You, Now Die. Antes de avançar para o caso, tenho de informar que irei falar de temas mais delicados, como suicídio, depressão, distúrbios alimentares. Se fores uma pessoa mais sensível, não recomendo a leitura deste artigo.
Artigo para maiores de 18 anos. Se fores menor, não leias este artigo. Se fores uma pessoa sensível não leias este artigo.
Conrad Roy nasceu em 1995 em Massachusetts. Vivia com os pais e era o irmão mais velho de duas irmãs. Conrad era um um aluno aplicado, na verdade até terminou o liceu com as notas mais altas. Era também desportista e ajudava no negócio de família ligado ao mar e barcos. Por isso, Conrad tirou uma licença de capitão. As suas notas eram tão altas que entrou automaticamente na universidade para estudar administração. Todavia, Conrad decidiu que não queria prosseguir os estudos, mas sim trabalhar no negócio de família.
Apesar de parecer que Conrad tinha uma vida bem normal para um adolescente, as coisas não eram assim tão estáveis. Conrad lutava contra ansiedade social e depressão. Um dos principais motivos para Conrad acabar nesta situação foi o divórcio dos pais. O ambiente familiar não era o mais saudável – Conrad sofria abusos físicos por parte do pai e verbais por parte do avó. Após o divórcio, Conrad passou a ter dificuldade em se relacionar com outras pessoas, a sua atenção diminui e tinha perdas de memória.
Após o divórcio, Conrad viu o seu aproveitamento escolar a diminuir.
Note-se que Conrad deixou um género de vídeo diário para a família. Nesses vídeos ele falava sobre si e como se sentia. Estou em crer que ainda se encontre alguns desses vídeos disponíveis na internet, porém eu recomendo a assistirem o documentário da HBO para entenderem melhor.
Excerto de um desses vídeos:
“Para mim parece que a vida social está a sobrecarregar a minha vida. A primeira coisa que quero fazer é ser mais pro-ativo no ambiente social. Tentar conversar da melhor forma possível e ter mais confiança em mim. Eu tenho olhado para mim de forma tão negativa. Sou apenas uma minúscula partícula na face da terra e nunca serei bem sucedido, nunca vou ter uma vida, mulher ou filhos. Tenho muito a oferecer a alguém, sou um bom miúdo. Há pessoas que me amam: tenho uma ótima mãe, um ótimo pai, mas estou tão deprimido. Sinto que sou diferente de todos os outros como se houvesse algo errado comigo.”
É evidente que Conrad lutava contra uma depressão. Ao mesmo tempo que ele pensava em suicídio, também demonstrava vontade de recuperar-se.
Foi em 2012 que Conrad conheceu Michelle. Quando se conheceram eles tinham cerca de 16 anos. A relação de ambos era à base de mensagens, praticamente um relação à distância. Michelle Carter era a sua namorada. Michelle nasceu em 1996 e vivia também em Massachusetts. A Michelle passou por um distúrbio alimentar, auto-mutilação e também tomava antidepressivos.
Assim como Conrad, Michelle passava por uma depressão.
Durante dois anos da sua relação eles estiveram juntos cerca de cinco vezes. Quer dizer, eles viviam a cerca de uma hora de distância. Naturalmente que acabaram por criar uma relação muito forte. Tanto Conrad como Michelle tinha algo em comum: depressão. Certamente que encontraram no outro alguém que iria compreender, bem como ajudar. Inclusive muitas das suas conversas eram sobre depressão e suicídio. Note-se que Conrad falou a Michelle que queria suicidar-se e das suas diversas tentativas. Por outro lado, Michelle aconselhou-o a não se suicidar, disse que ele ainda tinha muito para dar. Até o recomendou a pedir ajuda profissional, falou da si própria e de como procurar ajuda médica tinha a ajudado.
Em 12 de julho de 2014 a irmã do Conrad recebeu uma mensagem de Michelle, onde esta perguntava pelo Conrad. Durante esse dia o Conrad esteve com a sua família. Assim que chegaram a casa o Conrad informou que ia jantar com uns amigos, por isso, não contassem com ele para jantar. Então, Conrad pegou na sua carrinha e foi para a casa dos seus amigos. Contudo, o Conrad não voltou para casa. Não era uma atitude normal de Conrad, por isso, a família estranhou logo. Não atendia o telemóvel e ninguém sabia dele. Conrad estava desaparecido.
A família temia o pior devido as diversas tentativas anteriores de Conrad de suicídio.
A polícia encontrou Conrad na sua carrinha. Infelizmente encontraram-no sem vida. A polícia acabou por concluir de que a morte de Conrad tinha sido suicídio. O Conrad tinha conduzido até ao estacionamento do supermercado, preparou tudo e morreu ao inalar monóxido de carbono. Ainda assim a polícia desconfiou. A questão era: porque um adolescente de 18 anos iria tirar a sua própria vida? Encontraram o telemóvel de Conrad na carrinha e decidiram levar para analisar. Conrad só tinha uma conversa aberta: Michelle Conrad. Nesse momento, a investigação tomou outro rumo.
Apesar da família de Conrad saber que ambos mantinham contacto, não sabia que Michelle e Conrad eram namorados.
Michelle criou uma página no Facebook pouco tempo após o funeral de Conrad. Esta página servia para angariação de fundos para a prevenção de suicídio. Michelle nas redes sociais falava imenso sobre a prevenção do suicídio. Nesta altura, Michelle enviou uma mensagem a uma amiga sua – Sam -, onde dizia que era famosa devido à página de Facebook. Pediu para que Sam fosse até à página e desse o seu apoio, porque Michelle era famosa.
Ao início tudo indicava que Michelle tentava ajudar Conrad.
Conrad: Eu tentei matar-me.
Michelle: Como é que te tentaste matar? Ainda queres?
Conrad: Não, eu vou… Quero apenas que saibas… As vozes na minha cabeça dizem-me para fazê-lo, eu quero morrer.
Michelle: Eu sei que queres, até andas a pesquisar sobre isso, mas queres realmente fazê-lo?
Michelle: Conrad para, não vais fazê-lo… Eu sei que não… Eu não quero que o faças, tens tanto por viver.
Conrad: Eu nunca vou melhorar e tenho de aceitar isso.
Michelle: Tu estás num túnel escuro mas não vai durar para sempre, vais encontrar a luz um dia.
Duas semanas antes de Conrad ser encontrado na carrinha, as mensagens entre Conrad e Michelle mudaram. Michelle passa a incentivar Conrad a suicidar-se.
“Se achas que essa é a única maneira de seres feliz, o céu vai receber-te de braços abertos”, disse Michelle a Conrad em julho de 2014.
Dois dias antes de Conrad ser encontrado na sua carrinha. A polícia descobriu mensagens de Michelle com amigas onde dizia que Conrad estava desaparecido, quando Conrad ainda estava vivo e ambos trocavam mensagens. Para além disso, descobriram mensagens entre Michelle e Sam, no mesmo dia que Michelle perguntara à irmã de Conrad por ele. Ela disse à Sam: “Ele ligou-me e eu ouvi barulho e parecia que ele estava em sofrimento. Eu acho que ele se matou.” Após ela enviar esta mensagem a Sam, ela manda mensagem à irmã de Conrad a perguntar por ele.
Última mensagem enviada pelo Conrad:
Conrad: Estou a sair agora.
Michelle: Okay, tu consegues fazer isto.
Conrad: Okay, estou quase lá.
A polícia conforme lia a troca de mensagens descartaram a teoria de suicídio. Assim, Michelle passou a ser acusada de homicídio involuntário.
Conrad: Tipo, porque é que estou tão hesitante ultimamente. Há duas semanas atrás eu estava disposto a tentar qualquer coisa e agora estou cada vez pior, muito mau mesmo. E LOL não estou a seguir conseguir lidar com isto. Isto come-me por dentro.
Michelle: Tu estás hesitante porque continuas a pensar demasiado nisso e continuas a adiar. Tu só precisas de fazê-lo, Conrad. Quanto mais adias, mais isso te vai prejudicar. Tu estas pronto e preparado. Tudo o que precisas de fazer é ligar o gerador e tu serás livre e feliz. Para de adiar. Para de esperar.
Diziam que Michelle tinha incentivado Conrad ao suicídio para que as pessoas tivessem pena dela e lhe dessem mais atenção.
Michelle Carter no Twitter:
“Dia nacional da prevenção contra o suicídio, eu desejava que mais pessoa compreendessem. Eu amo-te e sinto a tua falta todos os dias Conrad ❤ Ajudem os outros #WeCanEndSuicide”
A polícia assim que descobriu o envolvimento de Michelle apreenderam o telemóvel dela. Nesse mesmo dia Michelle enviou uma mensagem à sua amiga Sam: “Sam, a morte dele é culpa minha. Honestamente eu podia tê-lo impedido. Estava ao telefone com ele e ele saiu do carro porque estava com medo e eu disse para voltar para dentro do carro.” De certo modo ela confessou que o Conrad se tentou suicidar, que até chegou a sair do carro e ela disse-lhe para voltar para dentro do carro.
Michelle: Bebe lixívia. Porque não bebes lixívia? Enforca-te, salta de um prédio, usa uma faca. Já tantas formas.
Michelle foi a julgamento.
A Michelle foi a julgamento. A defesa dizia que a Michelle estava com uma medicação forte, portanto o seu comportamento não era o seu comportamento normal. Era uma medicação que afetava as suas emoções, forma de pensar e agir. É de realçar que a Michelle também era uma pessoa que mentalmente tinha os seus próprios problemas. Mesmo depois de o Conrad ter morrido e ela sabendo isso, Michelle enviou uma mensagem ao Conrad a perguntar se estava tudo bem com ele, que estava preocupada com ele e que o adorava. É como se ela própria não tivesse noção do que tinha acontecido.
A acusação planeou tudo para tornar numa situação à volta de Michelle. Passaram a imagem de uma rapariga pouco popular, sem amigos, que procurava apenas conseguir atenção. A defesa de Michelle não negava as mensagens, diziam que: apesar de ter sido um ato impróprio, não poderia ser considerado um ato criminoso. Por isso, não deveria ser acusada de homicídio involuntário devido ao suicídio do namorado.
Enquanto a acusação dava a entender que Michelle apenas queria atenção. A defesa dizia que ela não podia ser acusada por um crime que Conrad é que tinha cometido.
Michelle: És o melhor namorado de sempre ☺
Conrad: És a melhor namorada de sempre
Na altura, a Michelle decidiu ser julgada apenas por um juiz e não pelo júri. Para a defesa existia uma maior probabilidade do julgamento correr melhor se houvesse apenas um juiz que olhasse para o caso pelo ponto de vista legal do que um júri. Apesar da defesa acreditar que com um juiz as coisas seriam mais leves, isso não aconteceu. Em fevereiro de 2015 foi acusada de homicídio involuntário. Foi condenada em junho de 2017 e cumpriu pena de 15 meses de prisão desde fevereiro de 2019. Michelle Carter, com 22 anos, saiu a 23 de janeiro de 2020. Viu a sua pena ser reduzida por bom comportamento, quatro meses mais cedo do que o previsto.
É um caso bastante complicado de se resolver. A verdade é que quem cometeu o crime foi Conrad. Podemos dizer que Michelle influenciou a decisão, mas o crime foi cometido pelo Conrad. Ela não esteve sequer presente no local no crime. Ele tomou a decisão de suicidar-se, foi ele que tomou as medidas para o fazer. Não seria completamente correto a Michelle ser acusada de homicídio, no entanto conseguiu-se provar que ela teve influência na decisão do Conrad.
Michelle e Conrad sofriam de depressão. A condição de saúde de Michelle poderá ter piorado ao manter esta relação, assim como a saúde de Conrad. Houve uma mudança de atitude por parte de Michelle, o que levou a essa mudança?
A troca de mensagens entre Michelle e Conrad foi a prova que convenceu o tribunal de que se tratava de um homicídio involuntário. A Michelle sempre afirmou ser inocente, que não queria que o namorado morresse, mas o tribunal pensava de outra forma. Acharam a atitude de Michelle imprudente e irresponsável – “Não chamou a polícia ou a família de Roy. Não chamou ninguém. E, em última instância, nem o instruiu a não fazê-lo”. O caso acabou por ficar conhecido como Texting Suicide Trial.
Este texto foi escrito com base em informações reunidas de diversos locais. Partilho abaixo as maiores fontes de informação para este artigo:
- SOLVED Ep. 12 : CONRAD ROY E MICHELLE CARTER | Joanna Pratas
- Documentário HBO “I Love You, Now Die”.
- Magg: Quem era Conrad Roy III, o rapaz que foi incentivado pela namorada a suicidar-se.
- Expresso: Michelle queria ser a “namorada de luto”. E levou Conrad a matar-se
Leave a Reply